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   Na época da faculdade, no sexto ano, eu tinha uma professora de prática de Pediatria excelente... Sempre digo que ela foi a precursora da minha vontade em ser pediatra... Era inteligentíssima, transmitia amor aos pacientes, paciência com pais de primeira viagem, nos explicava tudo e antes de mais nada: nos estimulava a estudarmos como ela. Eu a admirava.
   Uma coisa que a princípio me chamava a atenção era o fato de ela ser uma pessoa que ganha muito bem, mas sempre se vestia como um estudante pobre, sem maquiagem... Mas imaginava que ela era assim por ser assim mesmo...
   Um dia ela ficou doente (não me lembro o porquê) e ficou internada no nosso hospital universitário. Eu e minhas colegas fomos visitá-la... Qual não foi minha surpresa (e de uma colega de grupo) descobrirmos ali que ela era casada com o "faz-tudo" da faculdade. Um cara sem estudos... Tempos depois, soubemos que ela não se arrumava por não querer sublimá-lo... O quê?

   Sempre pensei o mesmo: casar com um homem com condições financeiras menores que você pode apresentar um problema... Ele pode ser machista e não querer que você trabalhe mais ou, pior ainda, não permitir que você cresça na sua profissão... Sei que talvez o marido dessa minha professora não seja nem um nem outro, mas devemos admitir: ela não parece médica por seu jeito de vestir, de ser...

   Uma das coisas que sempre pensei antes de me relacionar seriamente com alguém é sobre se meus pais aceitariam... Sim... Sou balzaquiana e parece ridículo, mas é a verdade... Afinal, como eles se sentiriam se depois de tantos plantões feitos pelo meu pai, cuidados com roupas, educação, maneiras com a minha mãe eu aparecesse com um "Zé Ninguém" em casa, chamando-o de meu amor e dizendo que é com ele que quero me casar? Acho que eles chorariam horrores...

   Trago este assunto por conta de um homem que conheci... Ele me foi apresentado por uma enfermeira colega. Achei que ele seria no mínimo um enfermeiro, mas qual não foi minha surpresa ao saber, durante nossa primeira saída juntos que ele era motorista socorrista da ambulância... Oh-oh...

   Conversando com ele, ele mesmo se autodenomina um "ogro", pela sua maneira sincera (até demais) de ser... Palavrões de médio calão (existe isso?) são mencionados por ele com uma frequência como a palavra "né" ... rsrsrs...
   Confesso que isso tudo é cômico... Ele diz que está procurando em mim sua "Fiona"...

   Mas, por mais cômico que seja tudo isso, coloquemos os pés no chão... Ele não tem estudo, nem se interessa em querer aprender... Brigamos uma vez por eu ter feito uma brincadeira com ele que mal entendeu e destilou o pior palavrão que podia no meu ouvido pelo telefone...

   É difícil... E devo dizer: não creio estar disposta a brigar com muita gente (família e amigos) por algo gritante na minha cara: ele não é do "meu mundo de gente bacana"...  É preconceituoso? Pode ser... Mas essa diferença pode incomodar tanto a ele quanto a mim...

   A conclusão que chego quanto a isso tudo é o seguinte: seria muito bom se a mulher (que está disposta a enfrentar as críticas e as diferenças por esse amor) pudesse fazer com que seu "Shrek" crescesse profissionalmente... Mas seria muito melhor se o "Shrek" em questão estivesse disposto a tudo isso e aproveitar de verdade essa oportunidade... Eu já tive 2 namorados que convenci a terem um diploma universitário, enquanto eu estudava Medicina... Um deles virou advogado... O outro confesso não saber... Mas é bom saber que um deles estudou por ter um diploma como a namorada dele... Isso me deixou feliz e orgulhosa... A família dele também me agradeceu por isso...

   É uma pena... Esse "Shrek" beijava tão bem... rsrsrsrs... mas, sem estudar... "no way Jose"...


   Lizlica